O Brasil é uma potência no poker online, mas nas grandes series mundo afora do esporte da mente disputadas de maneira presencial o país tupiniquim ainda fica atrás de países como o Estados Unidos. As dificuldades para viajar e a alta do dólar são apenas alguns dos motivos, mas mesmo assim o esquadrão verde e amarelo fez bonito na WSOP, em Las Vegas.

Paulo Joanello conversou com exclusividade com o BolaVip (Foto: PokerNews)
Paulo Joanello conversou com exclusividade com o BolaVip (Foto: PokerNews)

Paulo Joanello venceu o Evento #77 (US$ 1.500 FIFTY STACK No-Limit Hold´em) da copa do mundo de poker e ganhou o 17º bracelete de campeão mundial da história do Brasil nesta que é a maior competição do esporte da mente. Como recompensa, o jogador levou um prêmio de US$ 321.917 e falou com exclusividade para o Bola Vip sobre o apoio que recebeu na decisão dos outros jogadores brasileiros que estavam na terra do Tio Sam.

Paulo Joanello comemora com a torcida brasileira (Foto: PokerNews)

“A torcida brasileira é um fenômeno, sempre que tem um brasileiro na mesa final as pessoas vão chegando e vão fazendo barulho. Como tinha menos brasileiros nesta edição, pelas limitações, todos que estavam ali eram meus amigos pessoais”, revelou Joanello garantindo que a festa ajudou a desestabilizar seu adversário na decisão.

O heads-up foi contra o americano Toby Price e após uma longa batalha, o brasileiro conseguiu acabar com a disputa e correr para o abraço dos amigos. A vitória colocou este paranaense em uma lista de brasileiros campeões do mundo que conta com 16 nomes, já que Yuri Martins, ganhou duas vezes um bracelete.

Confira a entrevista completa com Paulo Joanello

Bola Vip: Você não é um profissional de poker, mas costuma ir disputar os torneios da WSOP, quantas vezes você foi para a série em Las Vegas, já tinha feito uma reta de algum outro torneio valendo bracelete?

Paulo Joanello: Eu não sou jogador profissional de poker, mas sou um profissional da área, eu trabalho com aplicativos de poker, possuo 14 clubes nesses aplicativos e vivo do poker, não jogando, mas vivo do poker sim. Em Las Vegas eu fui em 2013 e 2014, depois em 2019 e em 2021. Foi minha quarta vez e somente nessa consegui fazer uma deep run, que é o que a gente chama quando vai longe em um torneio. Eu fui bem em um torneio anterior a esse que eu ganhei, inclusive com o dinheiro que recebi paguei a entrada no que fui o grande campeão.

BV: Aqui do Brasil acompanhamos a sua vitória pelas redes sociais dos jogadores que estavam vendo a mesa final e o que pareceu foi que a torcida estava muito empolgada. Acha que isso foi um grande diferencial? Acredita que desestabilizou o seu adversário?

PJ: A Torcida brasileira é um fenômeno, sempre que tem um brasileiro na mesa final as pessoas vão chegando e vão fazendo barulho. Como tinha menos brasileiros nesta edição, pelas limitações, todos que estavam ali eram meus amigos pessoais. Tinha um ou outro que eu não conhecia, então foi uma conquista que eu estava ali por eles né.

O barulho que eles fizeram, as brincadeiras, cada mão que joguei eles comemoravam como se fosse um gol no futebol, isso foi muito legal e fez muita diferença, tanto que até comentei no momento que fiquei atrás no heads-up que tinha que virar o jogo, pois não podia decepcionar toda aquela turma. Eu acredito sim que meu oponente ficou desestabilizado, embora não tenha nada haver isso com os fatores técnicos e teóricos do jogo de poker, mas eu acho que a torcida faz sim toda a diferença. Os jogadores do Brasil são bem unidos e durante a WSOP um fica torcendo pelo outro.

BV: Qual foi o momento mais complicado do torneio que você ganhou? Tem alguma mão que queira destacar e contar para gente?

PJ: O momento mais complicado com certeza foi quando estávamos em três jogadores, eu era o menor em fichas, menos de 10bbs, fui de all in com par de 2 e o Toby (segundo colocado) pagou mostrou AJ. No flop apareceu um J e eu já pensei: ‘puxa, não acredito que vou ficar em terceiro, tão próximo do bracelete’. Olhei para cima e o pessoal que estava em volta da mesa começou a gritar: ‘vamos, ainda temos espada’. Faltavam duas cartas e fiz o flush em 2, acabei dobrando minhas fichas. Esse foi o momento mais complicado e foi o que alavancou a minha vitória com certeza.

BV: Você é do Paraná e entre todos os brasileiros que ganharam um bracelete vários são desse estado. Você acha que o Paraná é o maior formador de campeões de poker do Brasil? Qual é o segredo aí do estado?

PJ: Ehhh… Mais um paranaense… Acho que a água aqui do Paraná é diferenciada (risos). Olha, não sei se é o maior formador, acho que o maior em número deve ser São Paulo né, mas os melhores mesmo são do Paraná, desde o Yuri (Martins) que é o melhor do mundo, não sei dizer, mas sempre brincamos que a água de Curitiba é que faz milagre.

BV: Como você conheceu o poker, como foram os primeiros passos? Qual jogador brasileiro te inspira? E no estrangeiro, tem algum nome como referência?

PJ: O poker eu conheci como a maioria das pessoas, ainda menino, brincando em casa com os feijõezinhos, mas os primeiros passos foi quando morei fora do país, na Austrália. O pessoal lá adorava jogar, eu sabia as regras, e com o passar do tempo, isso lá em 2007, jogávamos valendo parte do aluguel. Depois passamos a ir em pubs e cassinos e quando voltei para o Brasil, no ano seguinte, comecei a frequentar os clubes presenciais e foi assim que a coisa foi crescendo.

Jogador brasileiro que me inspira é um grande amigo meu o Daniel Almeida. Não só por ser meu amigo, mas ele inspira toda a comunidade do poker com suas transmissões na Twitch, o que ele faz para comunidade é maravilhoso.

Agora jogador estrangeiro… Eu não acompanho essa nova geração, mas quando assistia os vídeos sempre procurei ver os do Daniel Negreanu e o Phil Ivey.

BV: Agora está rolando o BSOP, você pretende disputar, mostrar o bracelete para o pessoal, qual a tua expectativa para essa série? Acha que após a conquista do bracelete vai mudar a maneira como os adversários te enxergam na mesa?

PJ: No BSOP Millions estarei lá sim, eu não pretendo jogar muitos eventos. Não estava programado pra ir, tenho outros compromissos, mas vou lá mostrar o bracelete para todo mundo. O que der para jogar eu vou jogar e acho que a maneira que os adversários vão me ver na mesa vai mudar, acho que quanto mais conhecido o jogador fica, mais os caras querem jogar contra ele, e a minha posição vai ser sempre a mesma, vou sentar lá para me divertir e fazer o meu melhor sempre.