O esforço do Vasco para voltar ao futebol, junto ao Flamengo, não tem muitas motivações esportivas para o clube. Na verdade, a pressa da instituição é pouco justificável quando se olha para a Taça Rio e para os movimentos feitos durante a paralisação por conta da pandemia de Covid-19. São apenas dois pontos no segundo turno do Campeonato Carioca. Chances mínimas de classificação, sem público – logo sem renda – e com nenhuma contrataçãono elenco vascaíno. Pelo contrário, perdeu Marrony, até então titular da equipe que era comandada por Abel Braga.

Sem contratações e com saída: o Vasco de Ramon está de volta ao futebol
Sem contratações e com saída: o Vasco de Ramon está de volta ao futebol

Se tem alguma expectativa, é em como Ramon Menezes, antes auxiliar técnico e agora efetivado como comandante efetivo, vai armar e fazer o time do Vasco render. O elenco e o peso da camisa vascaína ele conhece muito bem. Vai ser a primeira oportunidade dele como treinador de um grande time. Para dar experiência, o multicampeão Antônio Lopes foi contratado para ser coordenador técnico. Seu filho Júnior Lopes e Tiago Kosloski serão os auxiliares.

Para ser bem sincero, é difícil imaginar que Ramon fará um trabalho pior do que o de Abel Braga, que, em momento algum, fez o Vasco jogar um bom futebol e parecia entender quase nada do elenco. A volta da bola em campo, para mim, extremamente precipitada, servirá ao menos para o torcedor matar a saudade. Treinando há mais de 15 dias em São Januário, onde pegará o Macaé no próximo domingo (21), às 16h (de Brasília), fiz um levantamento e análise do elenco que o técnico tem em mãos.

GOLEIRO:
Fernando Miguel, Jordi, Lucão e Alexander

O titular é Fernando Miguel, pela experiência, por já ter ajudado o Vasco em momentos decisivos e ser um líder do grupo. Porém Jordi, que cresceu muito após a passagem no CSA, Lucão, que acumula convocações para as seleções de base, e Alexander, claramente promissor, são três reservas que não comprometem e podem creser muito no Gigante da Colina. Sem preocupações nesta posição.

LATERAL-DIREITO:
Yago Pikachu, Cláudio Winck e Cayo Tenório

Titular absoluto, Pikachu é um dos principais jogadores do Vasco desde que chegou ao clube. Efetivo e raramente se machuca. Mas 2020 está longe de ser um bom ano. Hora de virar a chave. Cláudio Winck está querendo mostrar seu valor, já quequase não teve chances. Tenório, nas vezes que jogou, pouco mostrou. Precisa amadurecer. É uma posição delicada porque, apesar dos reservas estarem com muita vontade, não estão à altura do titular.

ZAGUEIRO:
Leandro Castan, Ricardo Graça, Breno, Werley, Miranda e Ulisses

É uma das posições que a diretoria – e eu também – acredita que precisa ser reforçada pelo lado direto. Mas tudo isso vai depender do desempenho de Ricardo Graça, um ótimo jogador, atuando ao lado do capitão e, na minha visão, melhor jogador do Vasco, Leandro Castan. Era o pedido da torcida desde sempre, mas Abel e Luxemburgo não apostaram na dupla de canhotos. Ramon sim. E creio que tenha acertado ao menos na tentativa.

Castansegue firme e forte no miolo de zaga e deverá ter novo companheiroapós a pandemia(Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Werley, na teoria, é o reserva imediato, mas pouco tem a paciência da torcida e, se Ricardo der certo, não tem motivo para voltar a ser titular. É experiente e útil. Por isso, nas condições atuais do Vasco, é peça para compor elenco. Nada além disso. Miranda e Ulisses são duas promessas da base e que têm muito potencial. Esses primeiros anos sem a necessidade de serem jogados na fogueira a todo momento vai ser imporante para se consolidarem.

Breno é impossível de avaliar. São mais de dois anos sem jogar e nada garante que ele estará 100% depois de tanto tempo. Marcado por lesões, segue recebendo avaliações constantes, apesar de estar treinando muito bem. O fato é queBreno, em plena forma, é um zagueiro com nível de Seleção Brasileira. Seria titular no Vasco. Mas qual Breno encontraremos? Não sei.

LATERAL-ESQUERDO:
Ramon (DM), Henrique, Alexandre e Riquelme

Com Ramon machucado, essa é a posição mais carente do Vasco. Desde que o próprio Ramon saiu do clube, em 2011, nenhum outro lateral conseguiu se firmar. Henrique, profissional desde 2013, jamais conseguiu fazer uma grande temporada. Parecia estar começando um bom 2020, mas foi interrompido pela paralisação. Não evoluiu ofensivamente e deixa a desejar na defesa.

A diretoria sabe que esta é uma posição carente e segue mapeando o mercado. Mas sem dinheiro, há dois garotos que deveriam ser mais testados. Alexandre é forte e tem qualidade. Já Riquelme é uma das maiores joias do clube. Comparado a Felipe, um dos maiores ídolos do Vasco, tem passagens pelas camadas jovens do Brasil. Esta temporada deveria ser para ganhar experiência e já chegar em 2021 com a titularidade batendo à porta. Em talento e cada um em sua posição, Riquelme deveria receber as oportunidades que Talles recebeu e acabou se tornando um dos pilares do Vasco. Certas hierarquias não deveriam existir.

VOLANTE:
Andrey, Raul, Bruno Gomes, Fellipe Bastos, Marcos Jr. e Juninho

Esta é uma posição que o Vasco vem se notabilizando há mais de 10 anos comogrande formador. Souza, Allan e Douglas Luiz são exemplos. Logo, Andrey, Bruno Gomes e Juninho podem seguir esse caminho. O primeiro faz a melhor temporada da carreira e foi o protagonistado Vasco até aqui. Os dois últimos têm carcaterístcas diferentes, mas muita qualidade e margem de crescimento.

Raul, que teve sua melhor fase com Luxemburgo, não repetiu com Abel, mas é um bom jogador e tem apenas 23 anos. Marcos Jr. oscila demais, mas também é um atleta para compor elenco, já que faz asfunçõesde volante e meia também. Já Fellipe Bastos funciona como um agregador de elenco, é muito querido pelo grupo, mas dentro de campo não corresponde há muito tempo. Na minha visão, a dupla titular deveria ser Andrey e Bruno Gomes. Se Ramon optar por três volantes, formação que deu certo com Luxemburgo, colocaria Raul.

MEIO-CAMPO:
Guarín, Bruno César, Martín Benítez e Lucas Santos

Ramon vem montando o time com Bruno César armando e Benítez ajudando, mas também atuando pela ponta, como subsituto de Marrony. É uma aposta já que o ex-camisa 10 parece ter emagrecido após uma temporada quase nula em 2019. Já Benítez é um promissor jogador e ainda não teve chances de mostrar seu futebol, vale a aposta.

Benítez deve ganhar chances com Ramon no retorno do Vasco ao futebol(Foto: Rafael Ribeiro/Vasco.com.br)

Mas a verdade é que o títular do time se chama Fredy Guarín. Se voltar em forma, tem tudo para ser um dos diferencias desse time, como já foi nos poucos meses em que jogou na temporada passada. Se Ramon optar mesmo pelo 4-4-2, colocaria Guarín e Martín Benítez, mas Bruno César pode aproveitar a ausência do colombiano nestas primeiras partidas para brigar pela vaga. Lucas Santos, ainda sem explodir nos profissionais, vai tentando mais uma vez mostrar o motivo de tanta expectativa desde a base.

PONTA/ATACANTE:
Vinícius, Gabriel Pec e Talles Magno

Se Ramon quiser optar por qualquer formação com três atacantes ou dois pontas, Vinícius na direita e Talles na esquerda são as escolhas ideais. Os mais qualificados, talentosos e habilidosos para a posição. Talles já é uma realidade, enquanto Vinícius busca seu espaço, mas já mostrou ter personalidade.

Gabriel Pec, que surgiu nos profissionais atuando pela ponta com Luxa, foi testado por Abel no meio, armando, e não deu conta. Canhoto, acredito que vá render mais, até pelo porte físico, se atuar pelos lados do campo. Tem certa técnica e pode crescer.

CENTROAVANTE:
Germán Cano, Tiago Reis, Ribamar e Kaio Magno

Titular absoluto e sem sombra, Gérman Cano é um dos pilares do Vasco. Nesta posição não tem o que discutir. Mas há com o que se preocupar. Tiago Reis e Ribamar estão longe de serem substitutos à altura. O garoto revelado no Vasco até começou bem, mas caiu de rendimento e nunca mais fez uma boa partida. Já Ribamar, em 44 jogos pelo Vasco, só fez quatro gols. São números espantosos e que justificam a implicância da torcida.

Cano é a esperança de gols de um Vasco que tenta evoluir agora sob o comando de Ramon (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco.com.br)

Kaio Magno é uma incógnita. Difícil avaliar. Mas é o último reserva. A verdade é que, nesta posição, o Vasco precisa correr para contratar um reserva para Cano. Um time que sofre demais para marcar gols e dependeu do camisa 14 a temporada inteira. E o dia em que ele não estiver bem, quem resolve? Não tem.

A formação, que deve contar com Fernando Miguel; Pikachu, Ricardo Graça, Leandro Castan e Henrique; Andrey, Raul, Bruno César e Martín Benítez (Vinícius); Talles Magno e Cano, mostra que Ramon enxerga o time ideal parecido com a torcida, apesar de algumas divergências.

O Vasco precisa contratar pelo menos três jogadores para ter uma temporada tranquila. Há uma espinha dorsal com Fernando Miguel, Castan, Guarín e Cano. Não é um grande time, mas com certeza está longe de ser uma equipe ruim. Agora é ver o que Ramon conseguirá extrair dessa mescla de garotos e jogadores mais experientes.