Cinco anos após o acidente aéreo que mais mais de 70 pessoas, entre jogadores, dirigentes, jornalistas e membros da tripulação, a Chapecoense ainda vive prejuízos emocionais e financeiros.Clube catarinense tem dívida milionária após ser exemplo no futebol brasileiro; dentro de campo, a imagem do Verdão do Oeste vai perdendo o brilho.

Buda Mendes/Getty Images – Torcedora da Chapecoense na Arena Condá.
© Buda Mendes/Getty Images - Torcedora da Chapecoense na Arena Condá.Buda Mendes/Getty Images – Torcedora da Chapecoense na Arena Condá.

Há cinco anos, a Chapecoense vivia um momento mágico. Sem dívidas, com um time muito competitivo e perto de conquistar em camposeu primeiro título internacional, porém, todo esse cenário começou a serinterrompidoem um trágico acidente aéreo que matou 71 pessoas, entre jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas.

Naquele momento, o time xodó da cidade de Chapecóiria disputar a partida de ida da final da Copa Sul-Americana de 2016. A Chapecoense vivia seu melhor momento, tanto esportivo, quantofinanceiro.Era o único time da primeira divisão do Brasileirão sem dívidas.

“Um exemplo de gestão e organização que deve se espalhar pelo futebol brasileiro”, elogiou na época o narrador Deva Pascovicci, da FOX Sports, ao transmitir a partida em que o clube se classificou para o jogo final. Deva foi um dos passageiros do voo 2933 da LaMia, que perdeu a vida, em 29 de novembro de 2016.

O desastre aéreo ainda cobra prejuízos emocionais e financeiros. Passados cinco anos, ainda segue a cobrança para responsabilizar os culpados pelo acidente. São ações abertas por familiares dos 68 brasileiros que perderam a vida naquele fatídico acidente.Os principais alvos das ações são a seguradora britânica Tokio Marine, a resseguradora boliviana Bisa, a corretora britânica AON e a companhia aérea boliviana LaMia.

Surgimento e anos dourados

O time que nasceu nos anos 1970, alcançou dois títulos do campeonato catarinense, em 1977 e 1996, mas a boa fase mesmo começou há 15 anos, quando desde 2007, foramcinco títulos estaduais conquistas e uma taça de campeão da segunda divisão do Brasileirão, além de participações em competiçõescontinentais, como a Copa Sul-Americana.

Aumento da dívida

O clube assumiu parte da responsabilidade pela tragédia do voo de 2016, após sofrer 37 processos na Justiça trabalhista. Os recursos para compensar as ações impactaram a situação financeira da Chape. Depois de zerar o déficit em 2016, o clube acumula hoje 120 milhões de reais em dívidas. Dar o“passo maior que a perna” após o acidente, foi o prejudicou o clube, diz Hélio Neto, ex-jogador que sobreviveu ao acidente.

Alex Caparros/Getty Images – Neto e Jackson Follmann, sobreviventes do acidente.

O time da Arena Condá contou com várias ajudas financeirasem 2017,que a ajudaram a se reconstruir. Mas, com as receitas além do esperado, vieram os gastos também exagerados. Em um ano, a dívida saltou de zero para 37 milhões de reais, e para 90 milhões no ano seguinte. A ansiedade em dar uma resposta após o acidente explica parte desse descontrole. Houve contratação de jogadores e outros profissionais que o clube não conseguiu sustentar.

Primeiro rebaixamento

Em 2019, a Chape conheceu pela primeira vez o gosto amargo do rebaixamento à série B, o que derrubou ainda mais as receitas do clube, principalmente com as transmissões de TV, por exemplo. O faturamento caiu de 73 milhões de reais para 28 milhões.

Campeão da segunda divisão em 2020, a Chape chegou com “pompa” à elite nacional, mas logo nas primeiras rodadas percebeu que dificilmente iria seguir entre os 20 melhores times do Brasil para 2022.

Pior campanha e segundo rebaixamento

O time não conseguiu manter o bom padrão que teve na série B, e “virtualmente” foi rebaixado ainda no primeiro turno, quando venceu apenas um dos 19 jogos. Agora consumado, a Chape está rebaixada novamente e terá muito trabalho para se reerguer.

Olhando para frene em busca da reconstrução

Enquanto luta por Justiça e para amenizar a dor de tamanha tragédia, aChapecoense trilha seu caminho no gramado para reencontrarseus dias vitoriosos. “O lado bom é que a essência do clube vai ser resgatada. Jogar a segunda divisão não é o fim do mundo, mas é saber que não podemos errar nos gastos, entender o que é o clube e a comunidade. Somos gigantes na essência, mas não em patrimônio. Nosso estádio é municipal, nosso centro de treinamento é arrendado. Sempre fizemos com pouco e temos que voltar a ter esse pensamento”, desabafa Neto.

A meta da Chapecoense para 2022 é modesta: não ser rebaixada à série C e “evitar uma espiral de rebaixamentos”. Uma projeção que combina com os objetivos a curto prazo de realinha as contas, buscar por reforços baratos e se reconectar com o espírito de clube comunitário e regional.

Chape é o primeiro time de muitos, o segundo de todos.