Desde que a insatisfação de Guarín foi colocada em pauta no Vasco, procurei me cercar de informações e também relembrar anteriores. Começo dizendo que colocar uma insatisfaçãoapenas falando de Guarín é errado. Não é só o colombiano. É um grupo inteiro de jogadores que não recebem há três meses (alguns estão há oito sem direitos imagem) e ouvem promessas não cumpridashá tempos. Mesmo assim, carregam os fardos de cabeça em pé e com caráter.
Fredy Guarín cobrou, assim como vários líderes com o apoio de todo o elenco. Eles veem a diretoria tentar equacionar as dívidas – e está buscandomesmo-, mas a dificuldade de sentir firmeza vêm das promessas antigas. O Vasco realmente acreditou que, em 2020, conseguiria colocar as contas em dia. Como sempre digo, a crise em cima da crise não deixou. “El Guaro” escutou, durante toda a negociação para renovar com o Gigante da Colina, que o clube iria fazer de tudo para que os salários pudessem estar em dia ou pelo menos algo muito próximo disso.
Lembro que Vanderlei Luxemburgo, em 2019, pediu salários em dia para permanecer em 2020. Nada feito. Rossi, um dos principais jogadores do time, saiu por isso. Outros pilares do time só não deixaram o clube porque tinham longos contratos. Guarín viu e vê tudo. Mas tem um carinho enorme peloVasco e torcida. Não é qualquer um que tatua o símbolo de um time na pele.
Hoje, o maior incômodo do colombiano é ver os companheiros de clube sofrerem com atrasos que podem chegar a quatro meses no dia 20 de julho, caso a diretoria não quite nenhuma folha até lá. Mas, pelo menos a princípio, ele não pensa em deixar o clube. A ausência, com aval do Vasco,realmente foi por uma questão familiar e que ele precisa de um tempo para resolver. Não há previsão de retorno, mesmo que ele siga no treinando em casa e no Brasil com acompanhamento do Cruz-Maltino.
Vale lembrar que foram apenas três jogos em 2020, o que faz o camisa 13 olhar para a própria situação de forma razoável em relação aos salários, mas não para a dos companheiros que estão treinando e jogando desde o começo do ano.
E ele está mais do que certo. Ninguém aguenta ficar tanto tempo sem receber e com um sorriso no rosto. Depois de tantos erros do presidente na gestão de futebol, o negócio só não piorou porque a diretoria acertou, em conjunto, na escolha de Ramon Menezes, um técnico que tem o grupo na mão, a experiência de quem é ídolo do Vasco e sabe como inspirar os jogadores mesmo diante das dificuldades. Um cara sereno e confiante que está levando novos ares ao elenco e também à torcida. Mas por quanto tempo ele vai conseguir segurar?
Nas finanças, o Vasco recorre contra a penhora de Marrony, vai ter a injeção mensal de cerca de R$3,2 milhõespor conta da torcida, que chegou junto na renovação do Sócio Gigante, e espera ainda a cota de TV do Carioca. Os pagamentos devem ser feitos, mas é importante frisar: Guarín não é vilão. Muito menos o grupo que cobra por eles e pelos funcionários. Quem trabalha tem que receber. E profissionalismo, independentemente do nível de cada atleta, o elenco nunca deixou de mostrar. Os fardos cansam. É importante saber diferenciarquem os coloca de quem os carrega.