Quem nasceu depois dos anos 2000 e nunca se interessou em pesquisar sobre a Portuguesa, não imagina a força do clube paulista nos anos 90. Especificamente em 1996. Naquele ano a Lusa chegou na final do Campeonato Brasileiro – naquela época a competição ainda não era disputada pelo sistema de pontos corridos e sim de mata-a-mata na segunda fase. O clube chegava para a disputa do maior campeonato nacional com dois atletas que no futuro se tornaram grandes jogadores: Rodrigo Fabri e, claro, Zé Roberto. Além disso, contava com a experiência de Clemer, Capitão, Caio, Zinho e Gallo.
A Portuguesa foi a última equipe presente na fase de mata-mata, ficando na 8ª colocação – naquela época oito times passavam de fase – com a classificação vindo no apagar das luzes da última rodada após uma excelente combinação de resultados. Na ocasião, o treinador Candinho fez questão de elogiar o seu time: “Foi a vitória da paciência e da calma. Clubes mais ricos, como São Paulo e Flamengo, ficaram de fora com esquadrões. Chegamos pela humildade. Agora, os críticos têm de engolir a Portuguesa entre os oito melhores”, afirmou em entrevista para o jornal Folha de São Paulo.
Pois é, mas a missão dali em diante seria muito complicada. Logo nas quartas-de-final o adversário era o time que terminou a primeira fase como líder. O clube que conquistou a Copa do Brasil naquele ano sobre o “Palmeiras dos 100 gols no Paulistão”. O Cruzeiro de Dida, Nonato, Palhinha e Paulinho McLaren não foi páreo para a Lusa. No Morumbi, Rodrigo Fabi deu show e abriu o placar encobrindo Dida, depois Alex Alves entrou e fez mais dois, garantindo a boa vantagem de três gols de diferença para o jogo de volta. No Mineirão, com quase 62 mil pessoas, o gol de Cleisson não foi suficiente para os mineiros que estavam na semifinal.
Mais um mineiro apareceu no caminho do Clube Rubro-Verde. Desta vez, o Atlético Mineiro. O Galo tinha jogadores como Taffarel, Doriva, Euller e Renaldo – que com 16 gols, terminou como artilheiro do Brasileirão daquele ano junto com Paulo Nunes. Sem nenhum dos quatro grandes nas semifinais, os torcedores de Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos foram torcer pela Lusa, colocando 20 mil torcedores no Morumbi. O gol de Alex Alves deixou o confronto em aberto.
Na volta, foi pior que às quartas-de-final. Se contra o Cruzeiro havia pouco mais de 60 mil pessoas no Mineirão, contra o Galo foram cerca de 80 mil. Fazia 16 anos que o clube mineiro não chegava em uma final de Brasileirão, mas ainda não seria daquela vez. Renaldo abriu o placar de pênalti, porém Caio – também em uma penalidade convertida – e mais uma vez Alex Alves viraram para a Portuguesa que ainda teve que sobreviver até o fim com o gol de empate de Euller e sem o zagueiro César, que foi expulso. A Portuguesa chegava pela primeira vez em sua história em uma final de Campeonato Braisleiro, aplaudida pela própria torcida do Galo.
Chegava o momento do sonho. 120 minutos separaram a Portuguesa do inédito título nacional. Porém, o adversário seria aquele que tinha conquistado a Libertadores de 1995: o Grêmio de Paulo Nunes,Dinho, Mauro Galvão, Rivarola, Arce, Carlos Miguel e Danrlei, comandados por ninguém menos que Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Porém, no dia do primeiro jogo, no Morumbi, a cidade de São Paulo enfrentava um dilúvio, e o ônibus da Lusa ficou parado no trânsito. Segundo o volante Capitão, eles chegaram no estádio às 20h33, sendo que a partida iria começar às 21h40.
Mesmo com muita gente sem conseguir chegar no estádio, mais de 30 mil pessoas foram apoiar a equipe paulista que conseguiu uma verdadeira epopeia. Gallo abriu o placar de falta, enquanto Rodrigo Fabri aproveitou o cruzamento de Caio para ampliar no segundo tempo. A equipe poderia sair da partida na mesma situação que saiu contra o Cruzeiro, mas perdeu muitos gols. Apesar da enorme vantagem para a partida no Olímpico, custou caro.
A Portuguesa chegou para a grande decisão focada, porém a pressão era imensa. Desde o estádio do Grêmio lotado, passando por Candinho tentando tirar seus jogadores de perto de torcedores do time gaúcho e até da imprensa, e terminando com a equipe não podendo aquecer no gramado. O resultado foi um caldeirão desde o primeiro minuto de jogo, com o pior acontecendo: gol de Paulo Nunes logo aos três minutos. O Tricolor Gaúcho só precisava de mais um, visto que tinha a melhor campanha e jogava por dois resultados iguais.
Rodrigo Fabri teve o título sem seus pés. Após passe de Alex Alves, os dois atacantes eram maioria no ataque: dois contra um. Fabri fintou o zagueiro e ficou cara a cara com Danrlei, mas a bola escapou e foi para a perna direita, que não era a boa. O tempo que ele usou para mandar a bola de volta para a esquerda, foi o suficiente para a zaga gremista se recuperar.
No segundo tempo, o Grêmio seguiu tentando e a Portuguesa se segurando. Com o tempo, os gaúchos começaram a se cansar, mas sem desistir. Faltavam apenas seis minutos, mas a Lusa não conseguiu mais. Após cruzamento, a zaga afastou mal e a bola sobrou para Aílton que de perna esquerda não deu chances para Clemer. Era o fim do sonho da Portuguesa graças a uma desatenção, como bem disse ano depois o volante Capitão: “Lembro que eu olhava para os jogadores do Grêmio, antes do gol, e eles estavam desanimados. Você podia ler (na cara deles): ‘perdemos’. É difícil explicar”, afirmou em entrevista ao site Vice Sports, em 2016.
Não havia mais tempo, o Grêmio era campeão. Porém, a torcida da Portuguesa fez questão de receber seus jogadores em São Paulo como verdadeiros campeões. Era merecido. Afinal, aquela campanha foi memorável com 46 pontos, 14 vitórias, quatro empates e 11 derrotas. Naquele ano, Zé Roberto e Rodrigo Fabri ganharam a “Bola de Prata”, da Revista Placar, graças ao histórico time da Portuguesa de 1996.
Quem foi o principal jogador da Lusa em 1996?
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