Já contamos diversas histórias do Botafogo por aqui, a maioria sobre as glórias e os grandes ídolos do clube, mas o Glorioso também reserva histórias inusitadas e polêmicas. Vamos rememorar uma das lembranças mais pitorescas do Alvinegro Carioca, que inclusive virou caso de policia e marcou para sempre o clube e o jogador que protagonista dos fatos.
Para dar aquela escapada do trabalho, algumas pessoas inventam todos os tipos de histórias, mas nesta quarta-feira, 05, completam exatos 11 anos desde que o jogador Paulo Rogério Reis da Silva, mais conhecido como Somália, providenciou a desculpa mais maluca para dar faltar ao serviço. O jogador, que atuava na época pelo Botafogo, precisava se apresentar à equipe carioca para iniciar a preparação para a temporada 2011, mas não apareceu, proporcionando momentos de tensão para o clube. Após não comparecer na apresentação da equipe, Somália se dirigiu à 16ª DP da Barra da Tijuca, afirmando que ao sair de casa para se dirigir ao Engenhão, acabou sendo sequestrado às 7h15 e liberado às 9h40 por um homem armado e que, justamente por esse motivo, teria faltado ao treino. Em seu relato à polícia, Somália afirmou ainda que o suspeito teria roubado dinheiro e joias.
O jogador demonstrou estar abalado com o que ocorreu e solicitou ao então gerente de futebol do clube, Anderson Barros, para dormir na concentração alvinegra, para descansar e tentar esquecer o traumático episódio do pensamento. Somália também comentou o caso para a imprensa no General Severiano. “Fiquei muito nervoso e pensava na minha filha. É algo que não desejo para ninguém, pois traumatiza mesmo. Mas tenho pessoas que gostam de mim e que me apoiaram nessa hora. Já passei por outras dificuldades, mas procuro transformar tudo de ruim numa página virada. Nas situações adversas procuro colocar alegria”, disse. Anteriormente, o atleta já havia demonstrado bom humor e brincado com o zagueiro João Filipe que ostentava um colar dourado. “Cuidado com isso aí, pretinho! Tá perigoso lá fora!”.
O que ninguém imaginava é que toda a história seria apenas uma desculpa por ter faltado ao serviço e muito menos se passava pela cabeça de Somália que a polícia iria desconfiar da denúncia e que dali em diante, as coisas tomariam proporções que fugiriam do seu controle. O que aconteceu é que o volante não se atentou a alguns detalhes e acabou se contradizendo em seu depoimento. Um dos detalhes foi a respeito da arma utilizada. “O jogador afirmou que sabia que a arma se tratava de uma pistola. No entanto, disse que não se lembrava da cor. Posteriormente ele afirmou que era uma pistola preta. Além disse, ele se contradisse ao descrever que vestimentas o suspeito usava”, afirmou o inspetor da Delegacia de Dedicação Integral ao Cidadão (DEDIC) da 16ª DP, Robinson Maia. Após o depoimento, a polícia buscou as imagens do prédio e os agentes acabaram identificando que por volta das 8h, quando estaria supostamente em poder do sequestrador, Somália aparece no elevador do edifício.
Com estas informações, a polícia entrou em contato com o advogado do Botafogo afim de saber se um atraso do jogador poderia causa-lhe algum tipo de transtorno. O advogado então informou à polícia que neste caso, o atleta poderia ter um desconto de 40% de seu salário. Assim, toda a farsa foi exposta e o campeão carioca acabou se vendo em uma situação mais delicada do que poderia imaginar, correndo o risco ainda de ser punido com detenção devido a falsa comunicação de crime. Após se dirigir ao IX Juizado Especial Criminal, no Rio, o atleta entrou em um acordo com o Ministério Público (MP), no qual teria que pagar o equivalente a 50 salários mínimos (R$ 22 mil, na época) em cestas básicas.
Na sala de imprensa de General Severiano, Somália voltou a falar com os jornalistas, mas sem abertura para perguntas. O jogador foi repreendido pelo clube e precisou pagar uma multa, demonstrando arrependimento por sua atitude. “Como filho, pai de família e cidadão, venho a público pedir desculpas à torcida alvinegra, que sempre me apoiou e que com certeza continuará me apoiando. Errei e estou aqui para assumir. Conversei com meu advogado, e fomos à delegacia prestar depoimento. Tudo o que tenho a fazer é pedir desculpas e tentar dar sequência ao trabalho. Não está sendo fácil para mim passar por essa situação”, disse ele na ocasião.
O jogador também se desculpou com a instituição e com o técnico Joel Santana. “Também quero pedir desculpas à instituição Botafogo. Sempre deixei claro que o clube é muito maior do que eu e que sempre será. E, de certa forma, eu expus o clube. Também pedi desculpas aos meus companheiros e à diretoria. Estou arrependido, e com certeza isso não acontecerá mais. Conversei com o Joel, e ele me disse que as coisas acontecem para que a gente aprenda.”.
O caso também teve repercussão para a família do volante. “Peço desculpas por me emocionar, porque penso no sofrimento da minha família, que mesmo assim ficou do meu lado. Só posso ser grato pelas pessoas que não deixaram de acreditar em mim. Espero que essa seja uma página virada na minha vida. Quero trabalhar firme e forte.”. Depois do ocorrido, acabou perdendo a confiança da torcida e passou a perder espaço, deixando a equipe no fim de 2012.