Imagina que você vai começar um filme e, antes da primeira cena, a personagem principal aparece na tela e pede que você memorize um símbolo e repita uma espécie de mantra, que pelo som que faz, não parece ser muito boa coisa. É assim que “Marcas da Maldição”, filme de terror taiwanês que estreia agora na Netflix, começa e já chega causando uma impressão bastante forte em quem assiste.
A história do filme é a seguinte: Ruo-nan é uma mulher que passou por anos de terapia para poder lidar com uma situação que viveu há alguns anos, quando junto do namorado e do irmão dele, resolveram gravar um vídeo para o canal deles no YouTube se infiltrando em um ritual religioso que era realizado anualmente pela família desse namorado em uma montanha bem pouco convidativa. Além disso, eles têm a intenção de entrar em uma caverna proibida que fica por lá.
É claro que eles fazem isso da pior forma possível, pintando pichações nos portões sagrados, quebram objetos do culto, etc. O que os três não sabem é que a cerimônia que estão interrompendo faz parte de um culto maligno do sudeste da Ásia, e o ritual feito anualmente serve para evitar desastres. A partir daí, já dá para imaginar o que acontece.
Acontece que Ruo-nan estava grávida, e após os eventos que presencia nas montanhas, ela entrega a criança para adoção e parte para fazer um tratamento psiquiátrico. Durante seis anos, ela permanece nesse tratamento até se sentir forte o suficiente para criar a filha. Nisso, tem duas coisas: depois da invasão ao ritual, Ruo-nan parece ter má sorte, já que ela e todos que ficam à sua volta sofrem com isso. E, depois, a gente descobre que a filha dela parece estar amaldiçoada: logo na primeira noite das duas juntas, um monte de coisas bizarras acontecem – mas vamos evitar dar spoilers.
Sucesso injustificado
O filme fez bastante sucesso na época de seu lançamento nos cinemas por lá por se vender como o “mais assustador” já feito em Taiwan. Sendo um falso documentário que se baseia fortemente em clássicos desse gênero como “A Bruxa de Blair”, por exemplo, o diretor Kevin Ko consegue logo no começo estabelecer um clima que a gente pode chamar de “opressivo”, típico desse tipo de trabalho: a câmera tremida, na mão, causa angústia em quem assiste, assim as cenas mal iluminadas que dão essa impressão de realismo. Nesse sentido, o filme é um ótimo trabalho.
O uso da interação com o público logo no começo também é uma boa sacada, porque todo mundo, consciente ou não disso, acaba atraído por essas questões das religiões ocultas. Apesar disso tudo, o filme acaba se perdendo em cenas de susto fácil, e que já ficaram manjadas com o tanto de filmes que foram feitos com o mesmo tema nos últimos 20 anos.
Outro problema é que o filme tem alguns erros de lógica que são notáveis, não dá para esconder. Boa parte deles envolve a filha de Ruo-nan, já que a menina aparece toda arrebentada em determinada cena e as autoridades nem sequer desconfiam do que poderia ter acontecido a ela.
Se você está procurando um filme de terror para passar seu tempo, com um clima bem típico de documentário falso e com um fundo de história real, “Marcas da Maldição” pode ser uma boa escolha. O roteiro se baseou em um acontecimento de 2005, quando uma família de seis pessoas teria sido possuída por várias divindades e se torturado brutalmente durante um mês inteiro, enquanto se alimentava basicamente de água, levando à morte da filha mais velha. Não dá para dizer o quanto foi transportado para o filme em si, mas considerando o histórico, pelo menos dá para garantir uma ambientação pesada e pode ser interessante para os fãs de terror.
“Marcas da Maldição” não revoluciona nada, e há exemplares muito melhores de found-footage disponíveis por aí, como o recente “A Médium”, que faz um retrato muito melhor sobre as questões espirituais na Ásia do que esse filme aqui. Ainda assim, se você gosta bastante de filmes de terror e tem tempo livre, pode ser uma boa diversão.