Há muito se esperava uma série brasileira que atendesse a um anseio de boa parte do público que acompanha os lançamentos do streaming: alguma que misturasse, com sucesso, um pouco de suspense com comédia, com situações que deixam o espectador interessado em saber como o enredo vai terminar. Houve uma tentativa da Netflix com “Reality Z”, aquela com zumbis e Sabrina Sato, mas não rolou muito bem. Agora, a jogada é alta: um time de estrelas em uma produção requintada está em “Maldivas”, que estreia na quarta-feira (15).

Maldivas, nova série brasileira da Netflix, estreia nesta quarta (15)
© Reprodução / NetflixMaldivas, nova série brasileira da Netflix, estreia nesta quarta (15)

A história da série começa como uma novela do Manoel Carlos: acompanhamos a vida de algumas moradoras de um condomínio luxuoso no Rio de Janeiro, com suas vidas completamente fúteis e problemas mesquinhos, totalmente descoladas da realidade do resto da população. A rotina é beber drinks à beira da piscina e desfilar suas belezas pelo local, e queimar alguns minutos com a rivalidade típica dessa classe social.

As coisas mudam quando Patrícia, interpretada pela Vanessa Gerbelli, é assassinada no condomínio: seu apartamento pegou fogo, e há indícios de que tenha sido algo premeditado. A filha dela, Liz (aqui interpretada pela Bruna Marquezine) se empenha em descobrir o que foi que aconteceu de verdade, e acaba encontrando uma rede de intrigas muito mais intensa do que era possível enxergar a olho nu. A própria história das duas é complicada: Liz foi abandonada pela mãe quando criança. Conforme mergulha na rotina do condomínio, ela descobre que sua mãe trocou de nome para morar no lugar, e acha tudo estranho. Investigando o caso, ela acha as principais suspeitas do crime:Milene (Manu Gavassi), Rayssa (Sheron Menezzes) e Kat (Carol Castro).

Uma ótima mistura de gêneros

Falando assim, parece que “Maldivas” é uma série pesada, difícil de assistir. No entanto, a primeira impressão logo se apaga: a produção usa esses ganchos para nos manter interessados na narrativa, mas em vários momentos apela para o humor que beira o pastelão, e também mostra uma certa crítica ao modo de vida dos habitantes mais abastados do Rio de Janeiro — e por extensão, do Brasil: as pequenas brigas de condomínio, disputas por status, etc. São essas partes mais cômicas que tem tudo para conquistar o público, além do mistério ser revelado aos poucos: cada uma das suspeitas tem segredos a esconder, e que podem ter relação com o assassinato.

“Maldivas” foi criada por Natalia Klein, que também atua na série como Verônica, e tem episódios bem curtos, de meia hora cada um, e acerta no tom do roteiro e na dinâmica proposta para nos apresentar esse enredo todo. É uma série ligeira, tanto que a primeira temporada é possível assistir de uma sentada só, no mesmo dia, e deixa um gosto de quero mais justamente pela trama bem amarrada e que mistura o suspense com boas doses de humor irônico.

Atuações acima da média

As atuações também não ficam para trás. Bruna Marquezine mostra que tem razão em buscar carreira internacional ao encarnar a personagem que entra nesse mundo quase a contragosto, em busca de respostas. A Liz que ela interpreta aqui é o fio condutor da série e ela segura bem os momentos mais tensos, assim como também mostra ter um bom timing para a comédia em alguns momentos.

Assim como ela, praticamente todo o time principal de atrizes consegue um resultado bem interessante: Manu Gavassi, Sheron Menezzes, Carol Castro e Natalia Klein dão um show com personagens que conseguem gerar empatia e desprezo quase em simultâneo. Por incrível que pareça, cada uma delas se aprofunda em seus personagens de uma forma tão convincente que, mesmo com atitudes suspeitíssimas e pouco caráter, elas se tornam muito próximas a quem assiste. Destaque também para o elenco masculino: Guilherme Winter, Klebber Toledo e Samuel Melo também ganham bons e importantes momentos nesse universo todo.

Com tudo isso, dá para dizer que “Maldivas” é um acerto das produções brasileiras na Netflix, o que vem se tornando cada vez mais frequente nos últimos anos, com séries como “Sintonia” fazendo grande sucesso junto ao público. Com um humor que vai do irônico fino ao escrachadoe muito mistério, a produção tem todos os ingredientes para fazer com que o público fique fissurado na história, sem deixar de lado o humor e a construção dos personagens. E, com esse final, certamente vai ter gente pedindo mais para a empresa nas redes sociais.