Em entrevista exclusiva ao Estadão, Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians, fez revelações contundentes sobre os bastidores do clube e os desdobramentos do caso Vai de Bet.

Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians – Foto Reprodução
Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians – Foto Reprodução

Primeiro dirigente a ser informado sobre irregularidades no contrato de R$ 360 milhões com a casa de apostas, Mendonça apontou diretamente para a omissão de Augusto Melo e classificou o atual momento do clube como consequência de uma “herança maldita”.

O Augusto mexia no celular enquanto eu falava da denúncia. Disse que não faria nada, como se fosse normal. Essa omissão causou prejuízos gigantescos ao Corinthians”, afirmou o dirigente.

Vice do Corinthians detalha denúncia e acusa presidente afastado de omissão

Segundo Mendonça, as primeiras informações sobre o escândalo chegaram em maio de 2024, quando o jornalista Juca Kfouri o procurou com dados sobre uma empresa “laranja”, a Neoway, que teria recebido parte da comissão do contrato com a Vai de Bet. Após constatar a irregularidade, o vice levou o caso ao presidente, que se recusou a abrir investigação interna ou afastar envolvidos.

Foi um choque perceber que o clube seria administrado por amigos e não por profissionais. Fui escanteado ainda na transição e só vi o agravamento de práticas irresponsáveis”, disse.

SP – SAO PAULO – 21/05/2025 – COPA DO BRASIL 2025, CORINTHIANS X NOVORIZONTINO – Augusto Melo presidente do Corinthians durante partida contra o Novorizontino no estadio Arena Corinthians pelo campeonato Copa Do Brasil 2025. Foto: Marcello Zambrana/AGIF

Dívidas, camarotes e tensão política

Armando também expôs uma dívida de R$ 4,4 milhões com o empresário Igor Zveibrucker, que teria emprestado dinheiro para viabilizar as contratações de Matheuzinho e Rodrigo Garro. Após a tentativa de compensação com uso de camarotes da Neo Química Arena sem contrato formal, o clube passou a cobrar o empresário judicialmente, acirrando a crise.

O Corinthians não pode ser administrado com improviso. O que herdamos foram dívidas com atletas, premiações não pagas e um clube sem caixa. Pegamos R$ 5 milhões em conta e obrigações que somam muito mais”, declarou.

Clima interno e reestruturação com a gestão interina

Com a saída forçada de Augusto Melo e a posse interina de Osmar Stabile, Armando diz trabalhar por uma reconstrução baseada em transparência e profissionalismo. O vice revela que passou a ser perseguido por conselheiros ligados ao ex-presidente e chegou a receber ameaças.

Blindamos o CT, proibimos a entrada de conselheiros e focamos em dar estabilidade aos jogadores e comissão. O vestiário voltou a ser dos atletas, sem politicagem”, afirmou.

Pressão da torcida e mudança no estatuto

A crise política e financeira ampliou a pressão da torcida por mudanças estruturais no clube. O vice-presidente defende maior transparência, participação dos sócios e revisão do estatuto.

A torcida está certa em exigir mudanças. O Corinthians precisa de uma gestão à altura da sua grandeza. Não há mais espaço para loucura ou amadorismo.