Os trâmites entreCorinthians e CaixaEconômica Federal chegaram a um desfecho aparentemente positivo para o lado do Timão. Após muitas negociações, a resolução para as pendências do Alvinegro com o banco foi encontrada, mas não sem muitas trocas de farpas em público e transações interrompidas ao longo do tempo. Por fim, o novo contrato de financiamento da Neo Química Arena foi assinado.

Divulgação/Ag. Corinthians. Após muitos anos, Corinthians e Caixa chegam a um acordo final sobre a dívida do Clube
Divulgação/Ag. Corinthians. Após muitos anos, Corinthians e Caixa chegam a um acordo final sobre a dívida do Clube

Para que o acordo fosse finalizado(mesmo sem a presença de Duílio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, que concluía a contratação do volante Fausto Vera), ambas as partes precisaram ceder. A Caixa ampliou os prazos e ofereceu carência para o início do pagamento, além de negociar taxas consideradas excelentes pela diretoria alvinegra.

Do outro lado, o Timão, que havida dado a sede do clube social como garantia no primeiro contrto, concordou em oferecer também as receitas com direitos de transmissão de TV e vendas de jogadores. No entanto, apesar do assunto ser pauta recorrente entre corintianos e apreciadores de futebol no geral, a relação entre banco e Clube gera dúvidas no público há muitos anos.

Questões sobre dívida final, valor tota da Arena e prazos para pagamento, pairam sobre os torcedores. Contudo, como o contrato é sigiloso, nem todas as perguntas têm resposta. Mas, de acordo com apurações do GE, alguns tópicos foram esclarecidos para que o público entenda melhor a dívida que assombra o Parque de São Jorge há mais de uma década. Acompanhe abaixo.

O novo acordo foi negociado pois, ainda em 2016, o Corinthians suspendeu o pagamento das parcelas do financiamento obtido com a Caixa por alguns meses. O problema chegou a ser resolvido na oportunidade mas, em 2018, notícias começaram a aparecer, relatando que o banco pretendia executar as garantias de contrato e, no ano seguinte, a Caixa alegou atraso em seis prestações e moveu uma ação judicial contra o Alvinegro.

Após mover os trâmites para os tribunais, o Corinthians suspendeu os pagamentos definitivamente e começou a elaborar um novo acordo. A Caixa alegou que já haviaprovisionado a zeroo empréstimo com o Clube, ou seja, a estatal já não contava com o retorno do dinheiro financiado. Mesmo assim, optou por negociar o valor.

O valor em questãoé de R$ 400 milhões, financiados em 2013, para a construção do estádio alvinegro. Inicialmente, a operação seria movida junto ao Banco do Brasil mas, por fim, o acerto foi finalizado com o BNDES(Banco Nacional do Desenvolvimento Social) e intermediado pela Caixa, por meio do programa ProCopa Arenas, que oferecia condições especiais devido a Copa do Mundode 2014, sediada no Brasil.

A quantia transferida pelo Clube ao banco gira em torno de R$ 165 milhões, de acordo com a própria diretoria. A dívida atual está na casa dos R$ 611 milhões,levando em consideração os juros e correções monetárias, previstas em contrato, que aumentaram o valor final do débito.

o prazo depagamento do novo acordo será me 2041. Com a carência oferecida até o fim do ano, os vencimentos começarão em 2023, quando o Timão arcará apenas com os juros da dívida de R$ 611 milhões e, a partir de 2025, o Clube deve quitar as parcelas do chamado valor principal, que é a parte destinada a reduzir o valor do financiamento inicial.

As prestações serão pagas a cada três meses, em 216 vezes, entre janeiro de 2023 e dezembro de 2041. Não há um valor conclusivo em relação às parcelas a serem quitadas, uma vez queo valor total da dívida (R$ 611 milhões) é corrigido anualmente pela taxa de CDI (atrelado à Selic, que atualmente é de 13,25%), somados a2%. Sobre o tópico, adiretoria do Corinthians já apresentou projeções eao Conselho Deliberativo do Clube, em 27 de junho.

É importante ressaltar que, ao longo dos anos, a inflação, ou seja, o aumento geral nos preços de bens e serviços, intervirá nos valores destinados ao Timão. Isso porque, da mesma forma que o valor da parcela do financiamente sofrerá alteração devido aos juros, a arrecadação corintiana também irá aumentar, provida pela bilheteria e outras propriedades da Arena. Sendo assim, R$ 100 milhões em 2040 valerão bem menos do que R$ 100 milhões atualmente.

Dessa forma, o custo total da Arena fica ‘em aberto’ por conta das movimentações do mundo financeiro. Hoje, o valor poderia ser fechado em R$ 1,5 bilhão. No entanto, vale aqui a mesma regra citada acima: a quantidade estipulada em 2022 não terá o mesmo peso que em 2041.

E aqui entra a importância dos naming rightsda Arena para a quitação da dívida. Isso porque o Corinthians acredita que será possível pagar mais da metade da dívida com estatal apenas com o dinheiro recebido pela negociação. Isso porque o acordo com a Hypera Pharma, assinado em 2020 por R$ 300 milhões, a serem pagos ao longo de 20 anos, foi corrigido peloIGPM (que em 2021 foi de 17,78%) e atualmente gira em torno deR$ 400 milhões.

Porém o IGPM é diferente da taxa CDI, explicada anteriormente. Dessa forma, nem sempre a diferença pode ser vantajosa ao Corinthians. Isso porque “oIGPM tem uma componente forte de variação cambial. De 2020 para cá o câmbio teve um salto grande e tivemos períodos de Selic irreal, muito abaixo do valor justo para o perfil econômico brasileiro. Quando há dois índices diferentes sempre há risco de descasamento. Para o bem e para o mal“,é o que explicaCésar Grafietti, economista e sócio da consultoria Convocados.

A diretoria do Corinthians fez bom negócio?

A diretoria do Corinthians fez bom negócio?

Com certeza! Foi o cenário mais vantajoso para o Clube
19 anos pra pagar e mutação de juros é muita coisa. Sai fora!

153 PESSOAS JÁ VOTARAM

Ainda de acordo com a explicação do economista, o novo contrato ” tem um lado bom que é organizar o pagamento, deixando uma folga de caixa no curto prazo. Em compensação será um longo período de consumo de caixa, porque os naming rights pagam uma parte, a bilheteria paga outra, e ainda tem manutenção. No longo prazo seguirá um fardo financeiro, que pode ser compensado se trouxer benefícios esportivos“, esclareceuGrafietti.

No entanto, nem todas as partes do conselho corintiano vêem vantagem no acordo determinado. Rozallah Santoro,conselheiro da oposição do Corinthians,formado em Engenharia e pós-graduado em Mercado Financeiro, enxerga as seguintes desvantagens no novo contrato com a Caixa:

O que mais chama a atenção de quem analisa é a questão da indexação. A gente tinha uma dívida com a Caixa que tinha como base a linha de incentivo para os estádios da Copa, que tinha uma taxa de juros contratual de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) + 3,6% ao ano. E foi renegociada para CDI (Certificado de Depósito Interbancário) + 2%. Para dar uma ideia do impacto, o primeiro ano de projeção de TJLP + 3,6% ficaria na casa de 10,5% ao ano. O CDI para esse ano já está nos 13,5%. Com mais 2%, ele está nos 15,5%. Então são 5% a mais de juros por ano“, declarou.

Do lado da direção alvinegra, não há dúvidas sobre o bom negócio realizado. De acordo com Wesley Melo, diretor financeiro do Corinthians, o estádio é autossustentável, e o Clube não precisará tirar dinheiro do caixa para pagá-lo, apesar de saber a dificuldade por não poder contar com a receita da bilheteria a longo prazo.

Esse prolongamento foi importante para deixar um fluxo de pagamento factível, que a gente consiga honrar. Não adiantaria nada fazer acordo que depois tivesse dificuldade de honrar, não essa, mas as próximas gestões do clube. O compromisso é do Corinthians, não de quem está na cadeira. Foi necessário colocar esse prazo mais longo para deixar todo mundo satisfeito e confiante do pagamento: torcida, imprensa, oposição, Caixa, todo mundo“, esclareceu Wesley.