Repercussão crescente nas competições sul-americanas

A temporada 2025 da Copa Libertadores vem sendo marcada por um volume inédito de críticas e contestações de clubes brasileiros contra a Conmebol. O motivo: erros de arbitragem, falhas no VAR e falta de transparência nas decisões. Palmeiras, Fortaleza e Corinthians lideram a lista dos que protocolaram queixas formais junto à entidade nas últimas semanas, pedindo mais rigor e revisão dos protocolos técnicos.

RJ – RIO DE JANEIRO – 22/10/2025 – COPA LIBERTADORES 2025, FLAMENGO X RACING – O arbitro Jesus Valenzuela durante partida entre Flamengo e Racing no estadio Maracana pelo campeonato Copa Libertadores 2025. Foto: Jorge Rodrigues/AGIF
© Jorge Rodrigues/AGIFRJ – RIO DE JANEIRO – 22/10/2025 – COPA LIBERTADORES 2025, FLAMENGO X RACING – O arbitro Jesus Valenzuela durante partida entre Flamengo e Racing no estadio Maracana pelo campeonato Copa Libertadores 2025. Foto: Jorge Rodrigues/AGIF

No caso do Palmeiras, o protesto foi motivado por um novo episódio de racismo durante a partida contra o Cerro Porteño, no Paraguai. Além de cobrar punições severas, o clube paulista também criticou a ausência de ação da tecnologia. “O VAR deveria ter identificado os autores”, lamentou um dirigente, destacando que o sistema de vídeo poderia ajudar a coibir ofensas raciais se usado de maneira mais ampla.

O Verdão ressaltou em nota que o episódio é o quarto caso de racismo em confrontos contra o time paraguaio desde 2022. O clube citou o próprio empenho em identificar torcedores racistas no Allianz Parque e exigiu o mesmo comprometimento das autoridades sul-americanas. A diretoria pediu punições exemplares e reforçou que a Conmebol precisa revisar seus mecanismos de controle — inclusive o uso do VAR em casos de discriminação.

Palmeiras cobra ação firme da Conmebol

A pressão se intensificou após a entidade não divulgar nenhum relatório detalhado sobre o episódio, o que gerou indignação entre torcedores e dirigentes. Para o Palmeiras, é inadmissível que uma ferramenta capaz de capturar qualquer gesto em campo não seja utilizada também para combater crimes de ódio. “A tecnologia não pode ser seletiva”, completou o comunicado oficial.

Outro caso emblemático envolveu o Fortaleza, que foi declarado vencedor por 3 a 0 após a interrupção do duelo contra o Colo-Colo, no Chile. A partida foi encerrada aos 24 minutos do segundo tempo, após uma invasão de campo e confusão generalizada. A Conmebol reconheceu a gravidade dos incidentes e puniu o clube chileno com cinco jogos de portões fechados, além de uma multa de 80 mil dólares.

Mesmo com a decisão favorável, o Fortaleza manifestou preocupação com a recorrência de episódios de violência nas competições da entidade. O clube agradeceu o apoio da CBF, mas cobrou medidas concretas para garantir a segurança de atletas e torcedores. Nos bastidores, dirigentes defendem que o VAR também possa ajudar na identificação rápida de invasores e agressores registrados pelas câmeras de transmissão.

RJ – RIO DE JANEIRO – 22/10/2025 – COPA LIBERTADORES 2025, FLAMENGO X RACING – O arbitro Jesus Valenzuela durante partida entre Flamengo e Racing no estadio Maracana pelo campeonato Copa Libertadores 2025. Foto: Jorge Rodrigues/AGIF

Corinthians mira mudanças na arbitragem

O Corinthians também engrossou o coro de reclamações contra a Conmebol. Após a eliminação para o Barcelona-EQU, o presidente Augusto Melo criticou duramente a atuação do uruguaio Esteban Ostojich, alegando conivência com a cera dos adversários. O dirigente prometeu ir pessoalmente à sede da entidade, em Luque, para cobrar profissionalização dos árbitros e critérios mais claros para o uso do VAR nas competições continentais.

A diretoria corintiana questiona a falta de punições para árbitros que cometem erros e a ausência de padrões técnicos entre as equipes de vídeo. “Trabalhamos o ano todo e somos eliminados por decisões que não condizem com o que o futebol precisa”, disse Melo, reforçando que o clube enviará relatório detalhado à Conmebol na época.

Decisão sobre Plata amplia tensão com clubes argentinos

O episódio mais recente veio da Argentina. O Estudiantes criticou publicamente a Conmebol pela anulação do cartão vermelho do atacante Gonzalo Plata, do Flamengo, antes do jogo decisivo em La Plata. A decisão permitiu que o jogador atuasse normalmente, o que irritou os dirigentes argentinos. “É uma escolha que não podemos combater, mas é difícil entender”, afirmou Agustín Alayes, diretor do clube, à Rádio La Redonda.

Internamente, o Estudiantes avalia que houve influência externa na decisão da Conmebol e cobra mais transparência nos julgamentos disciplinares. A liberação de Plata, segundo o clube, reforça a percepção de favoritismo a grandes times brasileiros, o que aumentou a pressão política sobre a entidade e reacendeu debates sobre a credibilidade do VAR.

Falta de transparência e promessas de revisão

Nos bastidores, a Conmebol admite que estuda revisar protocolos do VAR e implementar novas medidas para evitar atrasos e inconsistências nas revisões. Entre as propostas estão a divulgação pública dos áudios das análises e a criação de uma equipe independente para supervisionar os jogos de mata-mata. Contudo, até agora, nenhuma mudança foi oficializada.

Enquanto isso, os clubes brasileiros seguem unindo forças em busca de mais clareza e igualdade no uso da tecnologia. As reclamações desta temporada transformaram o VAR de ferramenta de justiça em motivo de desconfiança — e a Conmebol, novamente, no centro das atenções do continente.