Desde o anúncio de seu lançamento, ainda em 2019 — na esteira do sucesso estrondoso de “Coringa”, que deu um Oscar a Joaquin Phoenix no ano seguinte — “The Batman” vem sendo aguardado como o grande recomeço da saga do herói atormentado no cinema. Muita gente torceu o nariz quando Robert Pattinson foi anunciado como o novo dono da capa, em substituição a Ben Aflleck, mas logo a apreensão se tornou excitação com as novas possibilidades que poderiam se abrir para o personagem. Será que valeu a pena esperar?
A resposta é sim. Apesar de ter alguns problemas, principalmente em sua longuíssima duração (são quase três horas de exibição), “The Batman” consegue bons resultados junto ao público que já conhece o Batman de outros carnavais, mas também pode ser uma boa porta de entrada para quem quer conhecê-lo agora ou dar uma nova chance depois das versões de Tim Burton, Christopher Nolan e Zack Snyder.
O resumo de “The Batman” é simples: Bruce Wayne está há dois anos “trabalhando” como o vigilante mascarado, quando surge um vilão implacável: o Charada (Paul Dano), que comete crimes contra os principais figurões da cidade, com a intenção de chamar a atenção do herói. Em parceria com o comissário Gordon (Jeffrey Wright), ele investiga a situação ao mesmo tempo em que lida com Selina/Mulher Gato (Zoe Kravitz), que tem interesse pessoal na resolução dos crimes do serial killer.
Limpando Gothan — de novo
“The Batman” traz de volta a Gothan City suja e repleta de perigos nas ruas que tanto conhecemos de outros filmes e até mesmo dos quadrinhos. Os cenários foram projetados para passarem a impressão de claustrofobia, enquanto também prezam pela sujeira e impressão de abandono. A fotografia aposta no contraste entre a (pouca) luz e a escuridão completa, o que causa uma sensação de terror em quem assiste, já que sempre esperamos que algo saia das sombras — e nem sempre é o Batman. Se essa era a intenção, acertaram.
O desenvolvimento dos personagens, no entanto, ficou a desejar. Apesar de Pattinson convencer bastante como o Batman que parece carregar o mundo nas costas, outros acabam aparecendo sem ter muito o que fazer na história, como o Pinguim (Colin Farrell debaixo de pesada maquiagem), que parece ter sido inserido para o filme seguinte, e não para este. Da mesma forma, o Charada de Paul Dano também parece ter pouco a fazer a não ser gritar de forma ameaçadora em alguns momentos, mas nunca oferece grande perigo. Também acontece com o Alfred, interpretado por Andy Serkis, que tem pouca função narrativa.
No fim das contas, “The Batman” é um filme que vai agradar àqueles que esperavam uma história mais sóbria do Cavaleiro das Trevas, sem as trucagens das versões anteriores. É um filme cru, bem dirigido, mas que seria muito melhor se a montagem cortasse algo em torno de 20 minutos de cenas redundantes e houvesse um apuro maior no roteiro para evitar as repetições de cenas inteiras, além do cuidado ao dar propósito ao seus personagens, sobretudo os vilões. Mas ainda há tempo, já que a intenção da Warner Bros é formar uma nova trilogia. Ainda assim, é uma versão que supera, e muito, as encarnações comandadas por Snyder nos últimos anos e rivaliza com a de Nolan. E isso, por si só, já é uma vitória.