Renato Russo morreu no dia 11 de outubro de 1996, durante a madrugada. Um gênio da música brasileira havia partido de repente, sem qualquer explicação ao público.Não demorou para que, logo de manhã, todo mundo ficasse sabendo da notícia através dos jornais e, claro, do Plantão da Globo.
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Os canais que costumam publicar vídeos de trechos antigos da programação dos anos 80 e 90, como o VideosVHS ou Fábio Marckezini, ainda não conseguiram encontrar esses Plantõesem específico, que já é considerado um dos mais raros. Um deles interrompeu o Angel Mix, programa que a Angélica apresentava na emissora naquela época, alguém conseguiu gravar o programa inteiro — menos o Plantão.
Os fãs da Legião Urbana, banda liderada por ele e que era uma das mais conceituadas do entretenimento nacional, ficaram abalados porque meio que não esperavam por aquilo. É bom lembrar que em 1996 o Brasil estava muito distante de ter internet popular, era uma coisa que engatinhava no Brasil. Não é nada parecido com hoje, por mais que seja uma coisa óbvia de lembrar. A informação vinha no jornal impresso, ou na televisão. Quase ninguém sabia que o Renato Russo estava à beira da morte.
Nas semanas anteriores à morte, ele já estava bem mal. Relatos de amigos que deram entrevistas na época e também bem depois da morte do Renato Russo deram conta de que ele estava numa depressão terrível, porque sabia que estava próximo de morrer. O cantorera bem sensível, como as entrevistas dele sempre mostraram, e sentir a proximidade da morte o derrubou de vez.
Ele era soropositivo desde 1989, mas escolheu esconder do público. Até seus parentes mais próximos, como sua mãe, não sabiam da doença. No dia da morte dele, ela declarou a jornalistas que ele tinha morrido de anorexia nervosa. Poucas horas depois, o médico particular do Renato confirmou que a morte aconteceu por consequência da AIDS: doença pulmonar obstrutiva crônica, septicemia e infecção urinária.
Os últimos dias de Renato Russo
O estado emocional do Renato era evidente nas últimas gravações da Legião Urbana, que começaram pouco depois dele terminar de trabalhar no disco solo Equilíbrio Distante, aquele da capa amarela, com as músicas em italiano. Leras letras de “A Tempestade ou O Livro dos Dias”, é perceber que quase todas são uma carta de adeus.
Muita gente nem sabe, mas enquanto gravava o “A Tempestade”, o Renato Russo já estava sofrendo demais com as questões relacionadas a sua saúde, principalmente porque ele não conseguia se alimentar direito. Então, ele foi para o estúdio gravar apenas a voz-guia das músicas, e não voltou para dar acabamento.
Voz-guia é a versão da música que o cantor grava para, como tá no nome, guiar os instrumentistas. Depois que todo mundo grava os instrumentos, ele volta para dar a voz definitiva. No caso do Renato, isso não aconteceu. E olha que o disco foi gravado entre janeiro e julho daquele ano, mas esse espaçamento se deu porque ele já não tinha mais ânimo para terminar de gravar o álbum.
Mesmo assim, o material gravado deu para dois discos: o “Tempestade” e o “Uma Outra Estação”, feito com as sobras e mais algumas raridades, tipo a demo de “Marcianos Invadem a Terra” ou “Mariane”. Enquanto o primeiro é mais triste, depressivo mesmo e com razão, o segundo é um pouco mais “para cima”, por assim dizer.
Obra mais revolucionária do que nunca
No dia em que Renato Russo morreu, foram exibidos na Manchete e na Band shows da Legião Urbana (que inexplicavelmente ainda não foram lançados em DVD, com qualidade, mas podem ser encontrados na internet). A comoção foi geral. Ele foi cremado naquele mesmo dia, em uma cerimônia sem velório, como era de seu desejo. As cinzas foram espalhadas no jardim do sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro.
Renato Russo teve uma vida bastante agitada, e desde cedo mostrava genialidade. Na adolescência, sem poder andar por causa de um problema nos ossos, ele escrevia — e esses escritos estão virando livros atualmente, mas não tive a oportunidade de ler ainda. Depois, já curado, quis ser músico. Formou a Aborto Elétrico, onde cantava, escrevia as letras e tocava baixo. Marcou uma geração em Brasília. Depois virou Trovador Solitário, escreveu umas músicas com histórias como Bob Dylan fazia — daí que veio Eduardo e Mônica, Faroeste, etc.
Mas foi com a Legião que ele achou o meio ideal para expressar sua genialidade. Junto com Dado Villa Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha, Renato deixou de influenciar um grupo de amigos em Brasília para virar ídolo de boa parte do Brasil. Sua morte aos 36 anos privou a gente de continuar ouvindo sua música e conhecer suas ideias. Mas a obra ficou, e através dela ele continua influenciando um monte de gente.