Há ótimos filmes de suspense na América Latina. Poderia citar vários, a lista seria longa demais. Proporcionalmente, há uma lista ainda maior de filmes do gênero que estão abaixo da média, francamente de ruins para pior. A Netflix tem sido grande responsável em nos apresentar tanto as obras boas quanto as ruins — e nesta quarta-feira (15), a empresa de streaming entrega um ótimo exemplar do tipo, o argentino “A Ira de Deus”.
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O filme é baseado no livro “La Muerte Lenta de Luciana B.”, que não tem tradução para o Brasil, pelo menos não ainda, escrito porGuillermo Martínez. O autor não quis participar da adaptação para as telas de sua história por acreditar que a produção queria ter um “olhar único” a respeito do enredo, deixando o diretorSebastián Schindel livre para fazer a história como bem entendesse. Considerando o histórico de adaptações ruins de livros que tentaram ser fieis ao original, essa pode ter sido uma boa ideia.
Cena do filme A Ira de Deus, da Netflix – Foto: Netflix
A história em si é bastante interessante: logo no começo, conhecemos Luciana (interpretada porMacarena Achaga), que se vê envolvida em um mistério que parece insolúvel: vários parentes seus morreram nos últimos 12 anos de forma não muito convencional. De todos, sobra apenas a sua irmã, Valentina. Ela desconfia intensamente que seu chefe, um escritor chamado Kloster (papel deDiego Peretti) tem a ver com as tragédias, já que ele age de uma forma esquisita a respeito de tudo que está acontecendo. Então, Luciana pede ajuda a um jornalista (papel deJuan Minujín) para descobrir a verdade. Para isso, ela precisa correr contra o tempo antes que seja tarde demais. A pergunta que fica é: as tragédias sucessivas deixaram a mente de Luciana paranoica ou realmente há uma trama de assassinato aí?
Boa história + bons atores
O que faz com que “A Ira de Deus” funcione bem é a junção de uma boa história com bons atores. O roteiro, escrito pelo diretor com Pablo del Teso, consegue manter o interesse de quem assiste apostando na confusão na cabeça de Luciana, já que nós também ficamos confusos se ela está delirando ou se realmente Kloster é um sádico e metódico assassino. O suspense é mantido até o fim com a mão segura na direção e quase sem deixar pontas para que o público adivinhe o que realmente está acontecendo antes da hora.
Mas, sem bons atores, nem o melhor roteiro se salva. “A Ira de Deus” traz três atuações de destaque: enquanto Macarena Achaga se equilibra bem entre o colapso mental e a preocupação genuína em salvar o único familiar que resta a seu personagem, Diego Peretti brilha como Kloster, um homem quase indecifrável, já que nunca sabemos se ele está falando a verdade ou blefando em relação ao mistério. Juan Minujin tem uma participação menor, mas decisiva para a narrativa e segura os momentos mais fortes.
Na imensidão de filmes medíocres que vem sendo lançados nas plataformas de streaming apenas para “encher linguiça” no catálogo, “A Ira de Deus” é um filme que pode satisfazer os fãs de suspense psicológico, gênero que vem sendo tão castigado nos últimos anos. Certamente, esse não entra na enorme lista de produções a se evitar — pelo contrário.