O Palmeiras é o novo campeão paulista de 2020. Título que se não dá para ser comemorado de forma plena, pois, decidido no drama da pandemia do novo Coronavírus, ficará para história como a vitória em que se quebraram incômodos tabus e que jogou luz em verdadeiras joias lapidadas em casa. Eternamente essa taça ficará cravada como o campeonato de Patrick de Paula.

São Paulo é Verde e Branco novamente. Obrigado, PogPaula!
São Paulo é Verde e Branco novamente. Obrigado, PogPaula!

Ao correr para a bola na cobrança de pênalti, o camisa 5 levava consigo a missão da revanche do título perdido em 2018, bem como o poder de conferir tranquilidade na sequência de um trabalho promissor do novo Palmeiras que se apresenta. Quando a bola voou para a gaveta de Cássio, o grito de campeão coroou o surgimento de um ídolo que pouco aparentou ser um novato, tamanha sua onipresença para funcionalidade do time.

Partida tensa. No primeiro tempo, um Palestra vigoroso e determinado, afinal jogo de campeonato. Com sucesso, Zé Rafael conseguiu conferir marcação eficaz no meio de campo. Mesmo com certa dificuldade, auxiliou na construção de jogadas. Mas a dificuldade em concluir jogadas persistiu, o torcedor palmeirense viu o time rodar sem que apresentasse perigo na hora do arremate, o último passe sempre uma decepção, difícil o encontro de Luiz Adriano com a bola, mesmo que se apresentasse. Primeira etapa de muito equilíbrio, com praticamente 50% de posse de bola para cada equipe.

Com um setor defensivo bem postado e seguro, o meio de campo sob total controle de Patrick de Paula, com ótimas saídas de bolas, a meia cancha alviverde rende um trabalho em que nitidamente Gabriel Menino e De Paula se complementam. Se o camisa 5 era o marcador que com personalidade protegia a zaga e tinha a iniciativa de sair para o jogo, Menino buscou sempre a ligação com o ataque enquanto esteve em campo. A bola chegava, mas sem poder de perigo.

A entrada de Rony no segundo tempo deu ganho de objetividade ao ataque palestrino, as jogadas passaram a ter propósito. A opção era buscar em sua velocidade uma maneira eficaz de furar o bloqueio do rival. Sua movimentação na área dando trabalho para a marcação ajudou a confundir a zaga. E logo aos 3 minutos de jogo, o mosaico do gigante Evair colocado atrás da trave abençoa a cabeçada certeira de Luiz Adriano em lançamento de Viña. Enfim, o Palmeiras via uma jogada bem sucedida encontrar seu atacante.

Depois do gol, por dois minutos o Palmeiras passou a impressão que pressionaria mais, mas recuou, o que deu espaço para que o Alvinegro levasse perigo ao gol de Weverton. O flerte com a catástrofe, com o time de Luxa assistindo à evolução do rival, resultou no pênalti convertido por Jô. Em um lance infeliz, com certa infantilidade que não retratava a atuação séria e impecável que apresentou na partida, Gustavo Gómez quase fez do dia da redenção palestrina uma tragédia revivida.

Porém a decisão para os pênaltis não foi uma designação do destino apenas para a consagração de De Paula, que sacramentou a vitória. Weverton, que nas duas partidas da final, cresceu de maneira decisiva ao defender duas cobranças. O goleiro alviverde consolida-se cada vez mais como nome no panteão desta posição que figura nomes monstruosos do futebol. Além de Oberdan Catani, São Marcos, Fernando Prass e muitos outros craques de luvas, o goleiro entra na memória afetiva do torcedor sempre acostumado a contar com segurança debaixo das traves.

O 23º título estadual da Sociedade Esportiva Palmeiras entra para a história de maneira emblemática por diversos aspectos. Assim como no apaixonante 12 de julho de 1993, o time conquista um título em cima do maior rival brecando um jejum. É claro que as duas decisões tem pesos diferentes, mas ambas derrubaram tabus. O foco no campeão joga luz na sua esmagadora superioridade em decisões contra o time da Marginal Tietê. Em 11 confrontos (nacionais e estaduais) valendo taça, o Palestra levou 8.

Emblemático também porque traz Vanderlei Luxemburgo novamente à cena. O terceiro treinador que mais comandou  o Palmeiras, sendo o segundo com maior número de vitórias pelo clube, sagrou-se o técnico com mais títulos na história do Campeonato Paulista. Dos nove títulos de Luxa, cinco são com o Verdão. O estrategista comandou o Palestra nos cinco últimos títulos do total de 23 (1993, 1994, 1996, 2008 e 2020).

Com o título do Campeonato Paulista vencido neste sábado (08), no Allianz Parque, Luxa chegou a oito troféus pelo Verdão e isolou-se na liderança que dividia anteriormente com Oswaldo Brandão, sete vezes vencedor.

No Paulistão de 2020, em uma retomada inédita por conta da pandemia, é inegável que Vanderlei buscou moldar o time com diversas limitações técnicas que ficaram aparentes, soube dar valor, bem como acreditar em nomes da base. Certamente apostaria em Veron para aprimorar a objetividade do ataque alviverde não fosse a contusão do promissor atacante.

Após indefinições preocupantes durante a procura de padrão de jogo, o título paulista confere paz para a equipe mirar as outras competições. O “pojeto” deve seguir em construção. O fato do "Profexô" promover 6 jovens talentos das bases esmeraldinas no pós-quarentena diz muito de como está o olhar do técnico para esse novo Palmeiras que vem por aí.