A derrota para o rival do Morumbi - do último fim de semana - é daquelas em que se paga o preço pela falta de capacidade em construir uma sequencia evolutiva. O repertório de jogadas objetivas é escasso, não se consegue manter um padrão de jogo. Longe de apontar culpados ou indolentes, o que se levanta aqui é o desempenho fraco visto na inabilidade do Palmeiras em criar caminhos para vencer. A involução é notável. Antes, o incômodo era causado pela sequência de empates. Agora, já se desenha uma sequência de derrotas.

Palmeiras paga o preço por estar preso a um futebol ultrapassado
Palmeiras paga o preço por estar preso a um futebol ultrapassado

A progressão do Campeonato Brasileiro começa a mostrar como a invencibilidade do Verdão tinha caráter de sobrevivência e não de potência de futebol. A série de jogos sem derrota se deve a uma defesa de muita competência, comandada por Gustavo Gómez, porém bastou o paraguaio se ausentar por conta das Eliminatórias para a Copa que a vulnerabilidade do setor veio à tona.

Também são evidentes as limitações de que os jogadores podem entregar, bem como a defasagem de Vanderlei Luxemburgo na montagem do time, com direito a escalações teimosas ou substituições medrosas, retranqueiras e desprovidas de inventividade. É comum vermos a torcida afirmando que o antes ofensivo treinador agora busca saídas em ferrolhos à moda gaúcha. A corneta mais aguda toca alto ao declarar que Luxa se transmutou em um Celso Roth.

O Palmeiras não tem um posicionamento tático. Por não alinhar os setores para que atuem coletivamente, deixam-se grandes espaços e, com isso, jogadas de ataque ficam na dependência da iniciativa individual, ou seja, para preencher os espaços em um avanço ofensivo, é preciso que um jogador tenha lampejos talentosos. É como ativar o modo aleatório quando do que se necessita é uma jogada criada com protagonismo e apoio coletivo.

Essa carência de jogadas trabalhadas em conjunto, sem linhas geométricas em campo, faz com que os jogadores alviverdes não se posicionem para receber um passe. O resultado da desorganização é a imensa quantidade de toques de lado ou a clássica cena de Patrick de Paula pronto para projetar alguém para criar, mas sem sucesso em encontrar um companheiro para uma tabela, uma triangulação, uma mísera jogada bem trabalhada que há tempos não vemos nesse time. 

Sem espaços firmados pelas linhas, não há jogo, porque o adversário se recompõe ou ocupa a brecha deixada pela falta de disciplina tática. No jogo contra o São Paulo, Luxemburgo buscou justamente o contrário. Ao colocar Lucas Lima e Raphael Veiga concentrados no meio de campo, tentou "povoar" e congestionar o setor e travar o adversário. Porém o Profexô se esqueceu de que isso não apenas travaria o rival, mas também o Verdão, tanto que o clássico foi truncado, com muita disputa no meio e poucas finalizações de ambas as partes. Entretanto o time do Morumbi descobriu o caminho da vitória justamente quando coordenou seus avanços em uma linha que envolvesse o Palestra.

Ao pedir reforços na coletiva realizada no meio da semana, Luxemburgo desempenhou um papel simbólico e até mesmo sintomático do momento em que vive o Palmeiras. O técnico jogou o problema para um plantel curto, sintoma claro de que o caminho que ele enxerga está no individual e não na construção coletiva. Beira o nonsense acreditar que a vinda de mais jogadores vai fazer o time decolar e causa certo embaraço quando analisamos que, no Brasil, o Verdão conta com um dos elencos mais completos e bem pagos, isso sem contar com a base que vem forte.

Contar com a base ou com um destaque individual é pouco para encarar os desafios que a nova forma de jogar futebol exige. É preciso desenvolver treinamentos específicos, coisa que está na cara que Vanderlei não realiza. Será que Luxa acha que é mais fácil comprar jogador do que formatar o que tem na mão com uma proposta mais moderna de ofensividade coletiva? Os indícios são sinistros e levam a crer que o estrategista está ultrapassado de fato.